Ainda as urgências
9/07/2009 11:01:00 da manhã Publicado por Jolly Jumper
Anadia cerrou fileiras mas não escapou à sanha reformista
(...)
Dois anos depois: "Saímos à rua porque as alternativas não nos satisfaziam, e essa situação mantém-se". O que mudou em Anadia, de onde nos chega esta voz? O serviço de urgência do Hospital José Luciano de Castro acabou e acabou mesmo, pelo menos até nova mudança radical das políticas de Saúde. Nem toda a gente está insatisfeita. O líder da revolta de 2007, cuja voz atrás foi reproduzida, é agora candidato da CDU à Câmara Municipal, somando maior comprometimento político ao que então era o grito de uma cidadania que apenas agitava a bandeira da terra.
O fecho da urgência de Anadia, instalada num hospital de pequena dimensão, propriedade da Misericórdia local, terá sido o que mais brado deu quando o Governo encetou a redefinição da rede de serviços de urgência (e, também, dos Serviços de Atendimento Permanente) a nível nacional. De tal forma o município bairradino ficou a marcar este processo, que foi ali, depois, que ganhou forma a queda do ministro Correia de Campos. Porém, se a pasta da Saúde mudou de mãos, a política não sofreu desvios. Para os detractores, é movida por critérios estritamente economicistas. Na óptica do Governo, trata-se, digamos assim, de optimizar a rede e melhorar o serviço prestado aos cidadãos, algo que, resumindo, não será exequível com a manutenção por toda a parte de réplicas miniaturizadas nos grandes hospitais. Tal pressupõe uma muito melhor articulação com os meios de transporte de doentes, designadamente os que possuem suporte imediato/básico de vida, o que torna a execução da reforma ainda mais complexa e pode gerar situações problemáticas.
Ora, Anadia era uma de 15 urgências cujo encerramento foi proposto pela Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências (nem todos os casos foram ainda resolvidos, por não estarem reunidas as condições). E Anadia saiu à rua. De 24 de Abril de 2007 a 30 de Janeiro de 2008, sucederam-se as manifestações, mais de duas dezenas, no concelho ou fora de portas, do buzinão até Coimbra à deslocação à Assembleia da República.
Segundo Telma Soares, que ocupou papel destacado nos protestos, "o movimento está parado, porque as pessoas estavam saturadas de tantas manifestações e porque o presidente da Câmara disse que estava em negociações com a nova ministra", mas a insatisfação permanece.
No hospital de Anadia, onde estava a urgência, existe agora uma unidade de cuidados continuados, cuja implementação é feita em duas fases: convalescença 1, com 20 camas, já em funcionamento; convalescença 2 (cuidados paliativos, na terminologia tradicional), com 19 camas, à espera de aprovação pela Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro. Na porta ao lado, a uma dezena de metros, funciona, das 8 à meia-noite, a consulta aberta, serviço garantido pelos profissionais do Centro de Saúde de Anadia, que atendem situações agudas - da criança a arder em febre ao ferido ligeiro que precisa de uma sutura -, além de recorrerem aos meios complementares de diagnóstico e de tratamento do hospital. Para Telma Soares, esse serviço não passa de "um tapa-olhos", que, ainda por cima, deixa a descoberto "muita gente que trabalha em Anadia mas não vive em Anadia e que, por isso, não é atendida na consulta aberta nem no Centro de Saúde".
A bem dizer, a dita consulta aberta, quando lá esteve o JN. À porta, efectivamente, estava uma ambulância de suporta básico de vida do INEM e a respectiva tripulação, pronta a sair em caso de emergência. Mas lá dentro, na sala de espera, só se viam pessoas idosas à espera de uma consulta de reforço, como sucede em qualquer centro de saúde, na maior parte dos casos para obter receituário. Era o caso de Manuel Alves, utente da extensão da freguesia da Moita (por sorte, bem próxima da sede do concelho), que ali se desloca devido ao falecimento daquele que era o seu médico de família e à circunstância de a vaga não ter sido ocupada. Seja como for, mostra-se satisfeito: "Não sinto falta da urgência. O que fazem aqui é o mesmo que faziam antes".
Fonte da ARS fala no "projecto mais amplo de requalificação do hospital", designadamente com o reforço de novas valências ou da criação de três consultas de especialidade que antes não existiam (otorrinolaringologia, dermatologia e oftalmologia), mediante protocolo com os Hospitais da Universidade de Coimbra. No que às emergências graves respeita, nada terá mudado, mas há algo que as pessoas têm dificuldade em entender. Antes do encerramento, a urgência de Anadia havia sido remodelada. Mudam-se os políticos, mudam-se as vontades.
Publicado em JN
7 de setembro de 2009 às 15:37
Continuo a dizer o que sempre disse: só não entendo o despesismo na remodelação das urgências.
Agora, que o país está melhor assim, não tenho dúvidas nenhumas.
Não tenho certeza que o Município de Anadia esteja pior. É verdade que as o serviço de urgências faz falta, mas também faziam faltas as urgências.
Onde é que os anadienses iam para ter uma consulta de oftalmologia ou dermatologia? Ah pois...
E, só não concorda quem não conhece, a unidade de cuidados continuados só peca por não ser maior.
7 de setembro de 2009 às 17:47
O líder da revolta é um comissário de partido cumunista,empregado num sindicato da cgtp inter sindical, pago pelas quotizações dos trabalhadores e especialista em agitação popular.
Por outro lado, as pessoas não estão saturadas de manifestações. As pessoas perceberam, finalmente, que estavam a ser usadas e manipuladas pelo pcp e não só.
Segundo o "jornalista", na c. aberta, só estavam idosos . Qual é a admiração? Não são eles que mais precisam de recorrer ao médico?
Agora para JJ.
Foram realçadas algumas frases deste texto cuja intenção se percebe. Penso que deveria ter também realçado o 5º parágrafo
e a frase em que o sr. M.Alves, idoso, diz:"Não sinto falta da urgência. O que fazem aqui é o mesmo que faziam antes".
7 de setembro de 2009 às 18:58
Agradecido. Já está, tinha-me escapado essa...
Já agora, Manuel Alves será Manuel Alves, o Poeta-Cavador da freguesia da Moita?!
8 de setembro de 2009 às 20:04
Se fosse era bom sinal
Poderia dizer-se que agora o hospital não só trata as pessoas melhor do que antes mas também ressuscita os mortos. Seria a cereja no bolo.
8 de setembro de 2009 às 20:19
Será que o Manuel Alves entrevistado pelo jornalista também falou em rima?